sábado, 29 de outubro de 2011

PAPO COM O ARTÍSTA: O PENTAGRAMA fala com a dona de uma das mais belas vozes do Brasil. A premiada soprano TAÍS BANDEIRA


O Pentagrama:Taís, que tipos de papéis são mais adequados a sua voz?

Taís Bandeira: Essa pergunta é dúvida de muitos. Sempre prefiro que me escutem ao vivo e tirem as próprias conclusões. Prefiro dizer o que sinto confortável em cantar agora, que são papéis verdianos como: Leonora (Il Trovatore) e Violetta, os mozartianos como: Fiordiligi, Condessa, Donn'Anna e Donna Elvira que adoro e me divirto muito cantando; os puccinianos como: Manon Lescaut, Ciò-ciò San, Liù, a histérica Tosca e Suor Angelica, que meus recentes 30 anos (risos) me permitiram cantar com conforto. Fora os alemães que amo como Rosalinde (J. Strauss), Salome (R. Strauss)...

O Pentagrama: Você acha que o Mercado lírico no Brasil está crescendo ? Tem mais oportunidades ?

Taís Bandeira: Após alguns anos com os 2 principais teatros líricos brasileiros fechados, tivemos uma absurda quantidade de cantores líricos sem trabalho. Quem tomou a crise como oportunidade foi buscando ou criando novos caminhos. Ganhamos um aquecimento enorme no mercado de pocket ópera, ganhamos finalmente um Teatro São Pedro dedicado à òpera e a fundação de uma orquestra lá o que dá emprego a muita gente. Ganhamos algumas companhias de ópera com apresentações itinerantes pelo país e pelo estado de São Paulo. Acredito que aumentaram as oportunidades sim mas não suficientemente para a quantidade crescente de bons cantores no país. O Brasil acaba sendo um mercado para poucos cantores que acabam cantando sempre (às vezes até repertório inadequado) e por todo o país.

O Pentagrama: Você tem algum cuidado especial com a sua voz? Tem algum ritual antes de entrar no palco ?

Taís Bandeira: Tive vários rituais. Já evitei sorvete e tomei só água morna durante uns 3 anos. Não ajudou em nada. (risos) Já tive uma sequência de tiques (ou TOC ?) nervosos que acreditei me que me davam sorte...(risos). Com o passar do tempo e principalmente quando se sai em turnê você se pega em situações limítrofes tendo somente 10 minutos para se arrumar, fazer a maquiagem e escolher se vai aquecer a voz, comer ou fazer os rituais. E tem que escolher bem, pois público está esperando o seu melhor. Atualmente se conseguir fazer um “bocca chiusa” e uma mini concentração ou respiração polarizada, já está bom.

O Pentagrama: Você foi vencedora dos mais importantes concursos de Cantos da América Latina como: Maria Callas (2007), Aldo Baldin (2007), Carlos Gomes (2008) e sem contar que em 2004 foi a primeira brasileira a participar do concurso de canto Operalia do Tenor Placido Domingo. Encurta caminhos ? abriu portas ? Como foi está vivencia ?

Taís Bandeira: Bem, ganhar concursos foi muito bom. É sempre melhor do que perder, certo? Errado! Concurso é uma loteria; se a maioria do júri gosta do jeito que você faz a música então você ganha. Mas isso não quer dizer que você assinará contratos até 2020! Se você cai nas graças ou no gosto de algum empresário ou produtor que estava te assistindo então isso sim pode te abrir portas. No Concurso Maria Callas que ganhei primeiro prêmio por exemplo tive uma amiga cantora que não foi premiada, porém foi convidada a estudar no Conservatório Giuseppe Verdi em Milão onde Carlos Gomes estudou! Já no Bidu Sayão que não fui premiada mas tive a honra de fazer a turnê deste ano de La Traviata e Carmen da Casa da Ópera

O Pentagrama: Você foi a estrela do programa “Brazil Inside Out” produzido pela BBC de Londres sendo veiculado em todos os continentes, como foi esta experiência ?

Taís Bandeira: Foi incrível. Na época eu morava em Salvador. Fazia o Mestrado em Etnomusicologia. E não sei como eles me acharam lá? Acho que descobriram que eu fui a primeira cantora amazonense a cantar ópera do palco do Teatro Amazonas desde a sua construção. E que sou fruto da política cultural do meu estado natal. Uma índia que canta ópera é no mínimo bom para inglês ver, não é? (risos) O mais legal de tudo foi a receptividade e o carinho dos brasileiros amigos que moram do outro lado do Atlântico. Eles ficaram felizes com o programa, adimirados e orgulhosos do nosso Brasil.

O Pentagrama: “Um Beijo Atlântico Brasileiro”, composição e letra em parceria com o maestro Luis Gustavo Petri, com estréia em Coimbra - Portugal. Conta pra gente.

Taís Bandeira: Foi uma experiência divina. Estar ao lado de um homem tão talentoso, competente, delicado e humilde é uma experiência única. Cada gesto é uma aula. Cada música que fazemos é uma dança, um balé sincronizado. A música é nossa língua precisamos dela para respirar, para viver. Compor ao lado de um homem generoso como este é estar em outro mundo. O “Um Beijo Atlântico Brasileiro” foi simplesmente a consagração de uma aliança musical foi conseqüência de tamanha gratidão que sentíamos em estar ali em Coimbra, estreando um recital nosso (o primeiro!) num lugar lindo rodeado de pessoas delicadas e generosas.
O Guga me faz querer ser uma cantora melhor, uma mulher melhor. Não dá nem para descrever.

O Pentagrama: Para você qual é o universo interpretativo mais rico na vida do cantor ?

Taís Bandeira: Depende. Quando se canta no gênero popular qualquer que seja utilizado microfone, consequentemente aumentamos o número de recursos vocais difíceis de serem ouvidos acusticamente. Porém, acredito numa frase de Renato Russo “Disciplina é liberdade”. Descobri que interpretar e mostrar seu talento no tempo e no ritmo que a música te dá e no limite ou idéia que o diretor cênico te oferece é intrigante e desafiador. Não é para qualquer um. É quase um se vira nos 30 do Faustão, sabe? Tem que ser uma pessoa não só inteligente mas também flexível, aberta a novas idéias e disposta a se despir totalmente não só física mas também intelectualmente. Tem que soltar o orgulho e aceitar a visão dos chefes (maestro e diretor). O que pode enriquecer ainda mais o trabalho. Além da ópera estou subindo no palco Metal. Meu sangue me chama para fazer Heavy Metal. Agora com a expansão da voz lírica dos palcos de rock sinto uma enorme empatia com o repertório. Com 12 anos eu freqüentava os festivais de rock em que meus cunhados tocavam, então além da MPB o rock foi minha escola inicial.
Meus planos contemplam espectáculos cênicos em que o virtuosismo heavy metal se mistura ao erudito.



O Pentagrama:
Em “Ópera Cantada e Falada”, você fez o papel de “Micaela” em Carmen – baseada na ópera homônima de Georges Bizet que percorreu algumas cidades. Como o público recebeu o espetáculo ? É uma boa oportunidade para aproximar o público deste tipo de arte ?

Taís Bandeira: A recepção do público foi maravilhosa. Havia pessoas que nunca tinham tido nenhum tipo de contato com música erudita, muito menos com ópera. Muita gente se emocionou e pediu que voltássemos sempre. Tem uma cidade que já convidou o grupo para retornar várias vezes. E o fizemos.
Trazer o público do interior pro Teatro Municipal é muito mais complicado. É mais fácil levar até eles uma produção de qualidade para que eles possam ter sua primeira experiência com ópera. Esse trabalho da Casa da Ópera com o Governo do Estado de São Paulo é um trabalho social e educacional formador de platéia. Parece um trabalho de formiguinha se formos pensar em termos numéricos, mas acredito que a médio e longo prazo e dando continuidade cada vez maior e em todo Brasil (penso sempre grande) teremos mais teatros de ópera lotados por todo o país.

O Pentagrama: Você já fez muito coisa, tem um vasto curriculum musical, Gostaria de trabalhar com alguém em especial? Um projeto específico ? um sonho ?

Taís Bandeira: Sim. Muitos! Na ópera, tenho muita vontade de dividir o palco com o Jonas Kauffman por exemplo. Cantar Salomé regida pelo Maestro Luis Gustavo Petri. Tenho vontade de cantar a Thaïs de Massenet, a Helena de Strauss e a Sieglinde e Isolde (Wagner). Sonhos não faltam. Sonho com Viena desde pequena e assim vai. Tenho que continuar estudando e estudando, quem sabe um dia fico pronta né?
O rock, é um projeto em andamento. Sempre que podemos Guga e eu apresentamos arranjos de piano e canto de clássicos do heavy metal em apresentações. Até que completemos a banda. Falta baterista, guitarrista ou baixista que cante gutural e etc. Mas é um projeto já no caminho. Mais perto.

O Pentagrama: Quais seus projetos para 2012 ? E, Onde poderemos ver você cantar ainda este ano?

Taís Bandeira: Em 2012 vou dar continuidade na preparação dos projetos de heavy metal e no estudo e preparação de repertório novo. Pretendo me aprofundar no repetório francês, se possível “in loco”.
Este ano se Deus quiser farei ainda alguns eventos, todos no mês de novembro.
Canto no dia 3 de novembro no espetáculo NATUREZA no Sesc Pinheiros em SP com regência do maestro Rodrigo Vitta.
Dia 11/11/11 maestro Petri e eu fazemos um recital homenageando o pianista e compositor mineiro Eduardo Tagliatti (meu amigo querido falecido há 1 ano, com apenas 26 anos) na abertura do concurso de piano e música de câmara como mesmo nome. Dia 23/11/11 - farei com o pianista Aimar Santinho o recital "Mulheres de Puccini" no Teatro Pró-Música de Juíz de Fora. Recital comentado com a participação de Sérgio Casoy, Rodolfo Valverde e o maestro Petri.

Obrigado pela entrevista !

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