Uma récita nunca é igual à outra. Já vi cantores sofríveis em uma apresentação e bons em outra. Acontece sempre. A segunda noite da ópera Il Guarany de Carlos Gomes evidencia essa verdade. A vantagem de assistir ao mesmo espetáculo duas vezes (embora com elencos diferentes) é perceber alguns fatores que nos escapam à primeira vista.
Inexplicável é a luz azulada no teto do teatro, aparece como um fantasma na abertura e no quarto ato. Ao término da ópera , segundos antes de fechar as cortinas, desce uma cruz , simbolizando o nascimento do cristianismo no Brasil, ideia interessante. O traje dos índios Aimorés tem figuras geométricas , calças largas e umas máscaras que parecem ser Zorro, tudo muito esquisito. A Orquestra do Theatro São Pedro melhorou na execução da abertura. O coro canta a toda voz, quarenta coristas fazendo isso encobrem a tudo e a todos , ensurdecem os jovens e acordam os vovôs .
Os solistas foram desiguais, Nadja Souza fez uma Ceci jovem e inocente. Sua voz é leve, pequena e lírica. Defendeu as coloraturas com dificuldades. Destaque para seu belo timbre , encanta aos ouvidos, penetra com maciez na alma e nos corações apaixonados. Um soprano que pode evoluir muito com o tempo.
O tenor Rinaldo Leone continua como sempre, seu Peri tem agudos fracos compensados com gritos, timbre opaco e de difícil audição. Um grande corista, não um solista.
Leonardo Páscoa interpretou bem o personagem Gonzales, sua voz é robusta, com graves às vezes frios. Gustavo Lassen mostrou bela voz , encorpada , volumosa e brilhante, um bom Don Antônio. O papel do Cacique aimoré coube Jeller Felipe , bela interpretação cênica aliada a uma voz possante.
O Don Alvaro do tenor Gilberto Chaves mostrou , em sua pequena participação, um belo timbre com agudos fáceis e brilhantes. Apostaria nele para o papel de Peri, um jovem tenor que merece um papel maior nessa ópera.
por Ali Hassan Ayache.
Nenhum comentário:
Postar um comentário