segunda-feira, 18 de junho de 2012

CONEXÕES: A Professora universitária e Bióloga Miriam Carabetti conta como se apaixonou pela música.


Música erudita?
Miriam Carabetti
Professora e Bióloga UNG
Foto:Divulgação

“O quanto é preciso primeiro encontrar,
o quanto é preciso então suprimir
para se chegar à cerne nua da emoção.
(Claude Debussy)


Costumo dizer que entrei em uma escola aos sete anos e nunca mais sai. Professora, pedagoga e eterna estudante, posso afirmar então que lá se vão 53 anos de envolvimento educacional com a garotada e eterna pesquisadora do que seja e do que envolva esse encantado aprender. 

Meu envolvimento educacional inicialmente não passava pela música, mas ela, em especial a ópera, já havia me conquistado nos meus tenros anos. 

Os Beatles marcavam minha infância, mas um dia, alguém me levou ao Teatro Municipal de São Paulo, no programa, a ópera O Guarani, de Carlos Gomes. 

Adentrei maravilhada a um mundo mágico de formas, cores e sons que até então nunca havia experimentado e de onde nunca mais sairia. 

Era uma música diferente de tudo o que eu, nos meus poucos anos de vida, já tinha ouvido, mas que ao mesmo tempo, me era tão familiar. Que música era aquela que me eleva ao mais profundo dos céus? Há quem diga que a sinfonia e a melodia são na Terra apenas ecos enfraquecidos e distorcidos dos concertos celestiais. 

Que imagens musicais são essas que povoam a minha mente como o diálogo dos pássaros no Rappel Des Oiseaux, de Rameau ou a sugestão da tempestade imaginária desenhada pelo ribombar dos tímpanos na Pastoral de Beethoven, ou o desenho impressionista dos reflexos da luz sobre a água de Debussy? 

Que histórias essas linguagens sonoras de ritmos e melodias me contam? Que dores e alegrias me trazem? 

Miriam Carabetti tocando flauta ao fundo
Concerto no Teatro Santo Agostinho - Orquestra de Repertório "Manfredo
De Vincenzo" do Conservatório Villa Lobos
 Regência Rodrigo Vitta - Pianista Rosangela Zavan
Concerto para Piano e Orquestra n.4 de Beethoven
Quem são esses compositores-poetas que criam imagens sonoras tão significativas, orientando-se através das leis internas de sua percepção sonora, por meio da bússola de suas adivinhações mais sensíveis? 

Como esquecer a profunda impressão em mim produzida pela primeira audição de A Danação de Fausto de Berlioz? A revelação de um mundo misterioso e desconhecido, deslumbrante de riquezas e maravilhas. Berlioz foi genial demais para ser bem compreendido por seus contemporâneos; como ocorre com quase todos os inovadores musicais. Assim como os grandes mestres rebeldes do período clássico Hayden e Mozart, introduzindo o charme de assimetrias inesperadas em suas frases melódicas. Lembro-me das sensações inquietantes que me provocavam a música de Wagner com suas evoluções livres e continuas, desconhecendo o repouso das tensões. 

Que mundo era esse em que mergulhava minha sensibilidade na beleza simétrica das melodias clássicas ou na expansividade lírica dos românticos? Na plasticidade do canto gregoriano, às sutis irregularidades da música medieval e renascentista, à luxúria da linha melódica de Bach, ao lirismo de Schubert, Schumann, Chopin ou Tchaikovsky? 

E assim, mergulhada nesse mundo musical, muitas vezes solitário de companhias mas tão pleno em vibrações e sensações, que passei boa parte da minha vida, até que começaram a soprar aqui no Brasil no início dos anos 90, na educação, ideias novas de inter e transdisciplinaridade, nessa época também, iniciei meu trabalho como voluntária educacional de crianças carentes da periferia de São Paulo. Era chegado o momento de inserir a música clássica ou erudita, no cotidiano daquelas crianças, quem sabe eu conseguiria em uma só que fosse, despertá-la para esse encantamento musical? 

Além das audições e visitas a teatros e salas de espetáculos, um pouquinho de teoria musical para que esse universo pudesse ser um pouco mais compreendido, começamos com aulas de flauta doce e violão, instrumentos mais acessíveis financeiramente. 

Miriam Carabetti tocando flauta no Conservatório.
E foi ai que um outro lado meu veio á tona. Eu que apreciava tanto música erudita, não poderia também tocar um instrumento e mergulhar ainda mais minha compreensão nesse terreno sagrado interior? Não poderia aprender ainda mais para atender melhor as minhas crianças? Como a aprendizagem tem sido o mote fundamental da minha existência, lá fui eu aprender a tocar em um Conservatório, o instrumento que mais tocava a minha alma: flauta transversa. 

Será mesmo que não podemos proporcionar a uma criança que seja, o prazer de descortinar esse mundo encantado da música erudita? Não merecerá ela esse prazer? E nós? Não mereceremos nós mergulharmos nesse mundo por vezes desconhecido? 

Rubem Alves um dos maiores educadores que esse país já conheceu, escreveu uma crônica belíssima sobre esse assunto “A alegria da música”, que merece ser lida, onde ao final ele comenta: “Fico triste pensando naqueles que nunca conhecerão esse prazer. Simplesmente porque a possibilidade não lhes foi oferecida.” 




Miriam Carabetti
Professora e Bióloga - UNG
e.... Flautista



3 comentários:

  1. Miriam, por mais que parece que te conheço, sempre me surpreendo com você!!!
    Parabéns!!
    bjk

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  2. Nossa, muito bom, bom mesmo, um exemplo a ser compartilhado por todos nós.Abraços!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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