domingo, 8 de julho de 2012

PAPO COM O ARTÍSTA: EMMANUELE BALDINI, SPALLA DA OSESP, CONCEDE ENTREVISTA EXCLUSIVA AO "O PENTAGRAMA"


Foi aluno da classe da “Virtuositè” de Corrado Romano no Conservatório de Genebra. Estudou música de câmara com o "Trio di Trieste" e Franco Rossi, tendo se aperfeiçoado em Berlim e em Salzburgo com Ruggiero Ricci. Vencedor de diversos concursos internacionais, deu início à carreira solo após vencer o “Virtuositè” de Genebra e o 3º prêmio no concurso Lipizer, em Gorizia.

Emmanuele Baldini
Foto: Divulgação
O PENTAGRAMA: Você vem de uma família de músicos. Como era o ambiente musical em sua casa ? Houve um incentivador em especial ? É mais fácil ser músico, vindo de uma família de músicos ? Conta pra gente !

EMMANUELE BALDINI: Cresci ouvindo meus pais estudarem, minha casa "respirava" música todos os dias. Meu pai, especialmente, passava os dias inteiros ao piano, estudando os programas para seus recitais e isso foi marcante na minha formação. Quando comecei estudar violino, posso dizer que conhecia mais peças para piano do que para qualquer outro instrumento. Crescer cercado pela música e pela disciplina que ela requer, foi fundamental para formar os pilares da minha personalidade musical.

Emmanuele Baldini
Foto: Divulgação
O PENTAGRAMA: De que forma se deu a escolha pelo Violino ?

EMMANUELE BALDINI: Eu tocava piano, improvisava. Um dia, assisti na tv um concerto de um violinista italiano muito famoso, ainda em atividade: Uto Ughi. Com seis anos, pedi como presente de Natal um violino. Assim foi. Foi uma mágica: ao ouvir o som do violino logo senti que aquilo era o destino da minha vida.

O PENTAGRAMA: Você foi tido como um dos grandes talentos do seu País, a Itália. Você foi elogiado por grandes nomes como Claudio Abbado, Riccardo Muti, Ruggiero Ricci, Franco Gulli, entre outros. Porque e como se deu a vinda para o Brasil ?

EMMANUELE BALDINI: Vim após um convite do então diretor artístico da Osesp John Neschling. E logo fiquei encantado pela orquestra, pela Sala São Paulo mas sobre tudo pelo Brasil e pelos brasileiros. 

O PENTAGRAMA: Você também tem uma bela carreira como concertista, se apresentou pela europa e por toda Itália, tocou com as principais orquestras como a Orquestra Wiener Kammerorchester, Rundfunk Sinfonieorchester Berlin, Orchestre de la Suisse Romande, Flanders Youth Philharmonic Orchestra, Sinfônica da Moldávia, Sinfônica de Trieste, Orquestra de Câmara de Mântua, entre outras. Dos concertos que interpretou como solista, qual mais te marcou? O mais importante, aquele que você disse “Puxa… foi sensancional !!!” ?

EMMANUELE BALDINI: Tem vários concertos que marcaram minha carreira, e fica muito difícil falar de um só... Digamos que entre os mais especiais tem o Concerto de Schostakovich (n.1) tocado com a Orquestra de la Suisse Romande na Victoria Hall de Genebra, o Concerto de Schumann com a Orquestra da Radio de Berlim e a integral dos Concertos de Mozart, tocando e regendo, com a Osesp.

O PENTAGRAMA: Teve algum momento que pensou em desistir da música ?

EMMANUELE BALDINI: Nunca. A música é minha vida.

O PENTAGRAMA: Pelo que podemos observar, você interpretou em sua maioria concertos românticos e clássicos. Há algum compositor modernista ou um de vanguarda que gostaria de interpretar ?

Emmanuele Baldini
Foto: Divulgação
EMMANUELE BALDINI: Sou uma pessoa curiosa, sempre aberta a experimentar e a me lançar em desafios. Estou aberto a qualquer período histórico na música, assim como estou aberto a qualquer estilo musical, desde que seja de qualidade. Já toquei varias vezes o Concerto de câmara de A. Berg, e seria um sonho tocar o Concerto para violino do mesmo compositor. Amo Alban Berg!!! Estou muito interessado nos compositores brasileiros, e recebi já algumas dedicatórias importantes. Entre elas, recebi um Concerto para violino do amigo Edson Beltrami, dedicado a mim, que gostaria muito de ter a oportunidade de estrear...

O PENTAGRAMA: Sua discografia é composta por vários títulos, gravada pelos selos Agorà, Algol, Rivoalto e Phoenix e é muito elogiada pela crítica internacional. Tem alguma novidade no “forno” ?

EMMANUELE BALDINI: Muitas: um cd duplo com Fantasias de Operas italianas para violino e piano, um cd com as Sonatas de Franck, Rota e Villa-Lobos (com a pianista Juliana D'Agostini), um outro com o quarteto e quinteto com piano de Enrique Oswald, com o Quarteto Osesp e Ricardo Castro, e um cd dedicado a Flausino Vale, com sete obras inéditas de compositores brasileiros encomendadas e que se inspiram nos preludios para violino solo de Flausino Vale, com a Orquestra do Mato Grosso regida por Leandro Carvalho.

Quarteto OSESP
Foto:Internet

O PENTAGRAMA: Você é o fundador do Quarteto de Cordas da OSESP e Spalla da OSESP - Orquestra Sinfôncia do Estado de São Paulo, hoje, sob direção de Marin Alsop. Pra você existe um melhor universo interpretativo ? Como é isto ? Conta pra gente !

EMMANUELE BALDINI: Tenho a sorte de tocar numa orquestra maravilhosa, cheia de músicos que todo dia me ensinam algo. Hoje em dia, com a vinda da Marin, as coisas ficaram ainda mais estimulantes, pois trata-se de uma musicista completa, com muitas idéias musicais e de grande visão. Tendo como colegas alguns entre os melhores músicos do Brasil, foi natural formar um quarteto de cordas, a formação de câmara mais nobre e mais completa. Para responder a pergunta, acho que estou vivendo um período da minha vida em que o equilíbrio entre meus trabalhos como Spalla, a música de câmara de qualidade feita com meus colegas e os compromissos como solista, são a vida ideal para um músico como eu sou. Me sinto feliz de ter a oportunidade de tocar as grandes obras de repertório ao lado de grandes músicos, aprendendo muito a cada dia.

O PENTAGRAMA: A OSESP é a maior referência de música sinfônica do Brasil, um verdadeiro paradigma. Da para comparar o fazer sinfônico brasileiro com o europeu ? Falta muito para o Brasil chegar lá ? Nosso problema é mais musical ou de funcionamento administrativo ?

OSESP - regência maestrina Marin Alsop
Spalla Emmanuele Baldini
Foto: Divulgação
EMMANUELE BALDINI: É uma pergunta um tanto complexa. Fora duas ou três orquestras privilegiadas, existe sim um problema administrativo. Não existe uma mentalidade seria, na maioria das orquestras no Pais, que saiba como levar para frente uma orquestra investindo na qualidade. Musicalmente o Pais esta crescendo a uma velocidade impressionante, coisa que deixa grandes esperanças para o futuro, mas os políticos precisam entender a importância de uma orquestra no panorama cultural de uma cidade.

O PENTAGRAMA: Nestas suas andanças pelo mundo a fora, em turnês e concertos, você consegue nos dizer se o Brasil é reconhecido em sua arte sinfônica ? Ou somos apenas o País do samba e do futebol ?

EMMANUELE BALDINI: As coisas começam mudar, inclusive porque o futebol não é mais aquela coisa... (risos - provocação) brincadeiras a parte, existe um grande interesse hoje em dia no mundo em relação ao Brasil como Pais que esta produzindo música de qualidade, seja graças a orquestras do nível da Osesp, seja (finalmente) para um reconhecimento tardio de grandes compositores: até poucos anos atras lá fora se conhecia só Villa-Lobos, hoje o Camargo Guarnieri, o Francisco Mignone, o Cláudio Santoro e outros, começam ser tocados e admirados.

O PENTAGRAMA: O que Emmanuele Baldini ouve quando está tranquilo no carro ou em casa ?

EMMANUELE BALDINI: Música clássica, sobre tudo música de câmara e operistica e mpb. 

Emmanuele Baldini
Foto: Divulgação
O PENTAGRAMA:Tem algum concerto próximo como solista que possamos nos deleitar com sua arte ?

EMMANUELE BALDINI: Tem varias coisas por aqui no futuro: o "duplo" de Brahms no Municipal em novembro, o Bruch no Teatro S. Pedro em outubro, o Tchaikovsky em S. Caetano em agosto, e o Quinteto de Schubert com a Maria João Pires na Sala São Paulo em outubro, além naturalmente dos concertos da temporada do Quarteto Osesp...


Obrigada pela entrevista ! Uma grande honra.....



  
VAMOS CURTIR UM POUCO DE EMMANUELE BALDINI .....



‪  Emmanuele Baldini - Saint Säens Violin Concert - part. 1


 

entrevista concedida ao "O Pentagrama" 
por Alessandra Z. Vitta



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