sábado, 7 de julho de 2012

CRÍTICA: O APOCALIPSE SEGUNDO CHAPELA por Leonardo Martinelli

Johannes Moser [foto: divulgação]
Estreou no dia 05/07 na Sala São Paulo a obra Magnetar: Concerto para Violoncelo Elétrico e Orquestra, do compositor mexicano Enrico Chapela (1974). A peça faz parte da atual política de encomendas da Osesp. Porém, neste caso, o concerto foi o resultado de uma parceria com a Filarmônica de Los Angeles e a Sinfônica de Birmingham.

Confesso que me animei ao saber que o violoncelista alemão Johannes Moser estrearia no Brasil uma nova obra com um violoncelo elétrico, com a Osesp sob a regência de Marin Alsop. Afinal, já faz algumas décadas que temos na música contemporânea um rico e bonito repertório para instrumentos eletrificados ou expandidos eletricamente (os “meta-instrumentos”), além da exuberante música por live electronics, na qual conecta-se um instrumento musical qualquer a um sistema computadorizado, de forma a expandir ilimitadamente suas possibilidades tímbricas e expressivas.

Ledo engano o meu.

O que se ouviu foi um ingênuo e tedioso pastiche. Em seu Magnetar Chapela contenta-se em travestir o violoncelo como uma guitarra elétrica de uma banda de heavy metal. Ao invés de explorar todo o novo mundo de sonoridades que o violoncelo elétrico potencialmente possibilita, ele apenas revisita manjados efeitos que qualquer aprendiz de rockeiro já domina. Distorções, pedal wawa, reverbs e tentativas riffs foram apresentados como se fossem um verdadeiro Eldorado musical.

Tal como num show de rock bem mequetrefe, a amplificação do violoncelo elétrico limitou-se aos amplificadores instalados de forma bem chapada no palco, ignorando-se por completo uma tradição de distribuição e espacialização que acompanhou a eletrificação da música ainda na década de 1950. Na verdade, isto é mais uma prova da deliberada condição de pastiche da peça.

Tudo isto poderia até ser sublimado, não fosse o próprio discurso musical de Chapela ser, em si, bastante banal e previsível. Não que a tradicional estruturação da peça como um concerto em três movimentos contrastantes seja um problema. Mas a questão que invariavelmente surge quando se insiste na linguagem tonal e diatônica em pleno século XXI é: sou particularmente avesso ao purismo, mas por que fazer uma música tonal chata, de acordes raquíticos, sob clichês cadenciais mais do que manjados?

Alternativa? Ouça, por exemplo, o interessantíssimo Towards the horizon, o segundo concerto para violoncelo e orquestra recentemente composto pelo finlandês Einojuhani Rautavaara, que sem abrir mão de um intenso senso lírico, explora com habilidade interessantes sonoridades do violoncelo e da orquestra.


Apocalyptica [foto: divulgação]
Menos do que uma obra concertante, Magnetar tá mais para uma versão “deluxe” da banda finlandesa Apocalyptica. Fundada em 1993 por três violoncelistas (só em 2005 eles se permitiram acompanhar por uma bateria), este triunvirato do assim chamado symphonic metal acaba por ser mais autêntico que a peça de Chapela. Quase sempre usando violoncelos tradicionais, Apocalyptica revisita clássicos do gênero, tais como bandas como Metallica, Sepultura, Faith No More, Black Sabbath e Iron Maiden, entre outras, além de algumas criações próprias. Está longe de ser o som que eu, de livre e espontânea vontade, coloco para ouvir para meu bel prazer, mas não há como negar que é um trabalho com “atitude”, elemento fundamental no rock, inexistente neste concerto sem magnetismo algum de Chapela.

A prova disto foi que, em seu bis, Moser tomou emprestado o violoncelo “normal” de seu colega da Osesp para tocar uma sarabanda de Bach. Uma pena, pois teria sido interessante ouvir algo com o instrumento elétrico solo. Mas nem Moser pareceu muito convicto do que tinha acabo de tocar. É só uma impressão minha.




Leonardo Martinelli
Compositor e professor na Escola Municipal de Música de SP e na FASM
Colaborador da Revista e Site CONCERTO




Fonte: Revista Concerto

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