sexta-feira, 20 de abril de 2012

Na estréia da coluna "Conexões", o jovem compositor e maestro Rafael Vicole fala com exclusividade ao "O Pentagrama" sobre sua história, paixão e conexões com a música.

Rafael Vicole
 Ensaio do Teatro de Zlín na Republica Tcheca 

A Praga da Minha vida...

Iniciei na música aos doze anos de idade e assim como tantos outros jovens eu alimentei o recôndito sonho de sair do país. Sonho este que aos 24 anos de idade já tinha deixado para trás após concluir um curso superior em fisioterapia e estar trabalhando em um grande hospital de São Paulo, percebi que sempre faltará algo em minha vida. Foi uma decisão difícil escolher começar tudo do zero uma carreira que já tinha pensado em não seguir mais. Com o apoio da minha esposa aos 25 anos eu entrei na FAAM para cursar composição musical.

Comecei essa nova empreitada de maneira tímida e apenas com vontade de terminar o curso superior fazer um mestrado e me tornar um professor universitário no curso de musica, não tinha esperanças de ter uma carreira com performance musical pois me sentia velho.

As coisas começaram a mudar quando conheci o Maestro Rodrigo Vitta que por algum motivo me deu uma oportunidade de fazer uma orquestração para sua orquestra a Camerata Vitta. Após esse primeiro trabalho como “compositor/arranjador” minha trajetória começou a mudar pois fiquei mais próximo do maestro Rodrigo Vitta e as oportunidades começaram a aparecer.

Pouco tempo depois por indicação do maestro Rodrigo eu participei do mastreclass de regência orquestral do Conservatório Villa-Lobos com Dario Sotelo e Rodrigo Vitta, neste curso consegui uma bolsa de estudos para estudar regência no Conservatório Villa-Lobos.

Juntamente a essas atividades continuei a exercer minhas funções como fisioterapeuta no hospital.
Ensaio - Rafael Vicole 
Orquestra Bohuslav Martinu em Kromeriz Republica Tcheca

A mudança começou a ocorrer em Dezembro de 2010 quando recebi um e-mail do maestro Rodrigo Vitta que tinha me indicado para o curso com o Maestro Kirk Trevor em São Paulo. Foi uma decisão difícil pois teria que faltar no meu antigo emprego, mas com a compreensão e companhia de minha esposa decidi que a hora havia chegado.

Após quinze dias de curso e um convite para fazer o curso internacional de verão de Brasilia em Janeiro com o Maestro Kirk Trevor, fui demitido ao voltar para meu antigo emprego, estava preocupado pois não tinha mais minha renda porém, após três dias do meu desligamento fui contratado pelo Conservatório Villa-Lobos(SP) para lecionar harmonia.

Em Janeiro durante o curso de verão o Maestro Trevor me convidou para fazer o curso de aprimoramento em regência orquestral que ele ministra na cidade de Kromeriz na República Tcheca como bolsista do International Conducting Institue(EUA). Meu sonho se tornou realidade. Antes do meu embarque ainda fui nomeado para dar as aulas de treinamento auditivo, regência e prática de orquestra do Conservatório Villa-Lobos.


A experiência de sair do país foi de extrema importância para minha formação(acredito ser para todos que possuem essa oportunidade), na República Tcheca encontrei um lindo país com pessoas maravilhosas, poucas vezes na vida me senti tão a vontade em lugar(nem na casa de alguns familiares eu me sinto bem as vezes).

Durante o curso me deparei com pessoas das mais diversas nacionalidades e tive a oportunidade de conversar e saber como funciona a vida musical de países como Dinamarca, Suíça, Escócia, Alemanha, Hong Kong e Estados Unidos apenas para citar alguns.

A maioria dos cursos de regência desses países possuem as mesmas dificuldades que nós brasileiros encontramos: como praticar com um grupo. É muito difícil uma instituição possuir uma orquestra para que o aluno de regência tenha a parte prática do curso, todos acabam conduzindo pianistas ou grupos menores como quartetos ou quintetos.

Rafael Vicole - Ensaio
Teatro de Zlin com a Bohuslav Martinu
A única diferença que encontrei nessas conversas foi em relação ao curso de regência na Dinamarca onde o aluno durante os três anos de curso faz uma “Tour” visitando e praticando com as orquestras profissionais do país, sim isso é uma coisa rara de acontecer.

Como saldo final dessa aventura cheguei a conclusão que não estamos tão longe deles musicalmente falando, tecnicamente temos condições de falar de igual para igual em linguagem musical, eles apenas possuem um sistema de governo mais organizado que faz com que o país evolua de maneira coerente e justa.



Por Rafael Vicole
Leciona as matérias de harmonia, percepção e regência orquestral no Conservatório Villa-Lobos, orquestração na escola Fourmusic Academy. É diretor artístico e regente titular da Camerata Wein grupo dedicado ao lied e regente titular da Orquestra Jovem de Repertório Manfredo de Vincenzo e regente associado do coral da cidade de São Paulo.
Site: www.rafaelvicole.com

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